sexta-feira, 1 de março de 2013

Santíssimos Homens

O tipo renuncia mas não sem deixar alguma polémica na discussão sobre a pedofilia e homossexualidade na Igreja Católica. Preocupa-me mais que se juntem estas duas designações num único saco, do que propriamente o que se passa na igreja, que isso é lá com eles, desde que não prejudiquem ninguém... o que, infelizmente, nem sempre tem sido o caso.

Muita gente de bem, ou não, também tem relacionado levianamente o celibato com a homossexualidade, com a pedofilia, com as duas ao mesmo tempo, com todos os males da igreja e mais alguns. Aqui é preciso ir com muito cuidado...

Há muito tempo que defendo que, para separar as águas e ficar tudo claro, se devia estudar este problema a fundo, mas de forma fundamentada em evidência. Se a igreja permitisse, um conjunto de grupos de investigação em continentes diferentes fazia um pequeno estudo transversal sobre orientações sexuais e perversões sexuais de sacerdotes, com dados qualitativos e, principalmente, quantitativos, e com total confidencialidade (como aliás as suas ovelhas lhes exigem no momento da confissão), e tentava saber-se se a orientação sexual ou as perversões eram diferentes da população não celibatária. Se as diferenças fossem significativas (estatisticamente, claro), então, que se encontrassem as razões.

Sem isto, acho que nem vale a pena discutir o assunto... ou vale, mas apenas teoricamente, e com alguma elevação e cautelas.

Para já, é preciso afastar completamente e definitivamente as duas questões. Homossexualidade é uma variação normal do comportamento sexual, tão normal quanto a heterossexualidade ou outra qualquer cujos sujeitos não sejam postos em risco. Pedofilia é uma perversão sexual que pode levar a dano, em muitos casos gravíssimo, do sujeito e/ou do objecto. 

Por outro lado, há que distinguir o pedófilo do abusador sexual de crianças. Isto é muito importante, pois uma pessoa pode ser pedófila sem nunca ter praticado abusos, apesar de existir um determinado risco para o fazer. Um abusador é um criminoso que deve pagar a sua dívida para com a sociedade, seja sacerdote ou não.

Depois de tirarmos as coisas do mesmo saco, espero que nos entendamos melhor!

A mim não me preocupa a homossexualidade na igreja. Nem quero, sequer, discutir se há uma razão ou não para que a homossexualidade seja eventualmente maior entre sacerdotes do que entre os não sacerdotes. Isso não faz sentido nenhum. A homossexualidade, como orientação sexual, deverá ter uma distribuição muito semelhante nos dois grupos. Até prova em contrário, fico com esta ideia de fundo. Seria uma bela bofetada de luva branca para muita gente dentro e fora da igreja se isto se verificasse.

Quanto à pedofilia, as coisas já poderão ser diferentes. A génese de uma perversão sexual é necessáriamente diversa da de uma orientação sexual. Nesta, aceita-se que uma pessoa "nasça" predisposta, que seja tão natural quanto uma pessoa ser tímida ou extrovertida, ou  heterossexual... Apenas menos frequente na população. 

Uma perversão sexual, por definição, é um desvio na orientação sexual provocado por desordem de personalidade. Tem, portanto, uma causa e um efeito. Apesar das causas da pedofilia não estarem bem estabelecidas, o que se sabe até agora é que poderá haver alterações neurológicas nos pedófilos com correspondentes consequências psiquiátricas. Alguns estudos indicam hipóteses genéticas como possíveis, o que torna provável a diferenciação comportamental do pedófilo dependente do ambiente. Ou seja, não podemos rejeitar que o ambiente tenha um efeito no comportamento do pedófilo, nomeadamente na passagem da pulsão sexual ao acto em si. 

Hipoteticamente, como "a ocasião faz o ladrão", os seminários, colégios internos e demais locais onde abundem crianças e sacerdotes, serão terrenos propícios à afirmação do comportamento. 

Portanto, e mais uma vez, hipoteticamente, se a proporção de pedófilos abusadores de crianças for maior nos sacerdotes do que na população em geral, poderá ser devido à oportunidade de abusar e não a uma estranha orientação vocacional para o celibato.

O casamento de sacerdotes não resolveria, assim, o problema do abuso sexual de crianças. Quando muito, diminuiria a probabilidade de os abusos acontecerem.

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