domingo, 14 de novembro de 2010

Compreender Sociobiologia

Ao discutir a base biológica dos comportamentos, muitas vezes sou confrontado pelo meu interlocutor com exemplos soltos sobre um amigo, conhecido, familiar ou até figura pública, que não segue o padrão comportamental que eu descrevo, e na maior parte dos casos, isso é suficiente para que o interlocutor tome por inválida a teoria subjacente. Como isto já me aconteceu várias vezes e com pessoas diferentes, começo a pensar que é uma dificuldade recorrente na divulgação do pensamento sociobiológico.

Acontece que somos muito facilmente dominados pela lógica indutiva. Tomamos uma explicação como certa se houver um pequeno número de casos que a comprovem, assim como refutamos facilmente uma teoria se houver um pequeno número de casos que se lhe oponham. Como se não bastasse sermos influenciados pelas perspectivas antropocêntricas e teocêntricas, ainda temos estas dificuldades filosóficas na explicação biológica do comportamento.

No entanto, estes entraves são fáceis de debelar. Temos é que ter alguma paciência. Podemos começar por explicar que as teorias do comportamento não são absolutamente directivas. Não são como as leis da Física, não têm a mesma consistência hermética na explicação dos fenómenos. O que as teorias do comportamento nos dizem é que, em dado ambiente, há uma maior probabilidade de se expressar um dado traço comportamental. A Sociobiologia não nos diz, portanto, que agimos todos da mesma forma porque os nossos genes nos mandam. Usa, antes, o maior laboratório experimental da natureza - a evolução pela selecção natural e sexual - para explicar comportamentos sociais animais e humanos.

O facto é que os animais (o que nos inclui), evoluíram da forma que evoluíram na interdependência da expressão de comportamentos com maior frequência num dado ambiente, o que nos dá uma aproximação probabilística de expressarem os mesmos comportamentos no presente e no mesmo enquadramento ambiental. Trata-se, portanto, de uma análise complexa muito semelhante, por exemplo, à abordagem epidemiológica, com a agravante de contar com muitos mais factores que contribuem para diminuir a previsibilidade de ocorrer um dado comportamento.

O grande desafio da Biologia do Comportamento Humano é, na minha opinião, estudar a mudança da variável ambiental no comportamento, visto que já pouco resta do ambiente original onde evoluímos - as aldeias tribais. O facto de vivermos actualmente em ambientes muito diferentes dos primórdios, sem termos tido uma evolução genética (10.000 anos é muito pouco, quase nada em termos evolutivos), condiciona necessariamente a probabilidade de expressarmos um dado comportamento em analogia com o traço ancestral.

Se já está mais que provado que os genes têm um papel fundamental no comportamento humano, há ainda muito para desbravar no que diz respeito à sua interacção com estes ambientes urbanos modernos.

Tudo aponta, no entanto, para que os mesmos comportamentos que tínhamos no Paleolítico, se verifiquem na actualidade, se bem que com um certo grau de adaptabilidade a novas realidades.

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