quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A Macaca Peculiar - parte III

As diferenças entre macho e fêmea na espécie humana não se ficam pela diversidade de estratégias de produção de gâmetas e pela adopção de sinais visuais de substituição para a excitabilidade sexual. Há muitas mais! Ainda sem entrar na melindrosa análise comportamental, continuemos a apreciar as particularidades da fêmea, agora sob o ponto de vista fisiológico: ao contrário dos outros primatas, da generalidade dos mamíferos e de muitos outros seres vivos, a mulher não tem uma época reprodutiva específica. Não há uma altura do ano em que os Homo sapiens acasalem e tenham ninhadas. Isto pode acontecer seja Verão ou Inverno, faça calor ou frio.

Na altura do "cio", as outras primatas encontram-se disponíveis para o acasalamento, sinalizando ao macho a altura da ovulação através da secreção de feromonas, do ruborescimento e entumescimento da vulva e tecidos adjacentes e de determinados comportamentos que dão a entender que o período fértil está a acontecer. A fêmea humana, pelo contrário, é capaz de esconder completamente o período da sua ovulação, sendo impossível ao macho detectar quando é a altura certa para depositar a sua "semente".

No fundo, o que a mulher pretende com estas características é explorar um dos maiores temores do macho: a incerteza de paternidade. Há um velho ditado português que resume magistralmente este conceito: "filhos da minha filha, meus netos são; filhos do meu filho, serão ou não". É a sabedoria popular de mão dada com a Sociobiologia!

De facto, o comportamento reprodutivo dos machos de muitas espécies evoluiu no sentido de diminuir ao máximo a incerteza de paternidade, e no homem, não é diferente. Principalmente se atendermos ao facto de que nos humanos, o homem assume uma parte cabal nos cuidados parentais e na angariação de recursos para os filhos. Este grande investimento só faz sentido se for feito nos próprios genes, pelo que se compreende que uma das maiores angústias de um homem é não ter a certeza de ser pai dos seus filhos e uma das maiores humilhações, senão a maior, é descobri-lo.

Daqui se depreende que todas estas características da mulher contribuem para manter a monogamia como estratégia preferencial, não obstante o macho ter uma tendência meramente fisiológica para a poliginia. Ao esconder o período fértil e a ovulação e ao permitir a reprodução ao longo de todo o ano, a fêmea "prende" um dado macho, que terá que se manter por perto para assegurar que terá sucesso numa das tentativas de fertilização, ao mesmo tempo que impede que outro o faça por ele quando não estiver a ver.

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